são martinho de porres, op 
um chamado radical para novas vocações

Ministro da Misericórdia e da Compaixão

Tradicionalmente, os ministérios dos Irmãos na Ordem – os chamados ‘cooperadores’ – têm sido em grande parte aqueles de prestar serviços para a sua própria comunidade. Raramente eles se envolviam em ministérios além dos limites dos conventos. Muitas vezes esses ministérios ficaram escondidos e despercebidos.

Todos os frades da Ordem assumem a responsabilidade pela pregação e pela salvação das almas. Os Irmãos Dominicanos exercem o privilégio, o direito e a responsabilidade de realizar a Santa Pregação, mas a partir de uma ampla variedade de púlpitos; viajando para lugares onde quer que a evangelização seja desesperadamente necessária, entre os pobres, os desamparados, os abandonados e os indesejáveis. Pregando de muitos púlpitos, os Irmãos Dominicanos respondem – não apenas com palavras – mas com a Palavra de Deus que vive em seus corações. É, de fato, o privilégio do Irmão Dominicano anunciar o Reino de Deus a todos aqueles que esperam pela mensagem da salvação, especialmente entre as pessoas que vivem em circunstâncias onde seus irmãos sacerdotes ainda não tiveram acesso.

O ministério de São Martinho de Porres, no entanto, se expressou através de uma via de evangelização diferente, a de cuidar dos doentes e dos moribundos de sua própria comunidade dominicana, e daqueles entre os desprezados das ruas de Lima, daqueles que não tinham esperança e não eram amados. Assinado como o enfermeiro na sua comunidade dominicana - que na época contava com quase trezentos frades - Martinho aplicou aos Irmãos da comunidade seus talentos adquiridos como barbeiro-cirurgião. Cuidar de seus Irmãos em sua comunidade foi sua primeira pregação. Martinho também cuidou daqueles que também vinham até a porta do convento procurando ajuda. Tão preocupado, no entanto, era ele com a forma como poderia encontrar os abandonados que precisassem de socorro, que Martinho ia caminhando pelas ruas de Lima e trazendo o doente e o sem-teto até para a sua cela para alimentá-lo e cuidar de seus ferimentos.

Essa compaixão e caridade de Martinho para com os doentes e os idosos, trazendo o Evangelho da esperança e da cura para aqueles que não eram amados, os órfãos e os sem-teto das favelas de Lima, para aqueles que sofriam de doenças estigmatizadas ou eram discriminados por seu estilo de vida, essa foi sua expressão vivida da vida de São Domingos, enquanto ministro da misericórdia e da compaixão para com todos aqueles em perigo. Sua influência no cuidado dos pobres e doentes de Lima resultou na criação de um orfanato e de um hospital infantil.

Trazendo esperança e cura para nossa igreja

O que a vida e o ministério de St. Martinho de Porres significam para nós hoje? Que temas evidenciados em sua vida de oração contemplativa, pregação e evangelização têm relevância para o nosso mundo global e para nossa própria resposta como ministros do Evangelho?

Nossa Igreja tem sido seriamente ferida pela patologia do abuso de crianças e pessoas vulneráveis. Na experiência da cura, a cicatrização de uma ferida ocorre somente depois que todos os tecidos mortos foram removidos e o vírus ou bactéria responsável pela infecção foi eliminado por meio de antibióticos específicos para aquela doença e o tratamento cuidadoso da ferida. Com excelente cuidado, sob a supervisão criteriosa de médicos competentes, novas células têm espaço para crescer, multiplicar e amadurecer em tecidos sadios e em imunes sistemas que promovem e sustentam com força renovada todo o corpo: esse corpo que é a Igreja.

Para realizar essa cura das feridas na Igreja, novos ministérios de religiosos, mulheres e homens, conselheiros qualificados e profissionais experientes em cuidados de saúde e de trauma, são necessários, urgentemente, para de maneiras novas e diferentes, responder à catástrofe moral que se manifestou na Igreja e em nossa cultura. Dadas as questões atuais, é urgente um novo ministério de cura por meio da educação, de iniciativas colaborativas, de encontros diretos com indivíduos e grupos. Exigirá múltiplas interações com outros ministérios e congregações estabelecidos. Exigirá que os ministérios de toda a Igreja assumam este desafio e tragam cura duradoura e esperança para nossas irmãs e nossos irmãos sofridos, e para as comunidades feridas da Igreja e do nosso mundo global.

Inspirados pelo ministério de São Martinho de Porres, OP, e respondendo ao chamado do Papa Francisco e do Mestre da nossa Ordem , como Pregadores da Graça e como missionários e discípulos da esperança e da cura, devemos abrir nossos corações e acolher aqueles que vivem nas franjas mais extremas da sociedade, franjas que a própria sociedade criou, para acolher na família humana aquele cujas vozes foram abafadas pela humilhante indiferença dos outros, e curar essas feridas reafirmando sua dignidade humana e liberdade e promovendo seu florescimento humano . Eis um apelo único para uma missão profética onde os Irmãos Dominicanos, consagrados à Palavra, podem proclamar o carisma de nossa Ordem e trazer cura e esperança a uma Igreja ferida.

Em seu amor pela Igreja, em todas as idades, Cristo chama as pessoas para cuidar do seu povo. Desde já, os Irmãos Dominicanos são chamados a participar da Nova Evangelização para esta época, para este tempo e para este mundo. Os irmãos dominicanos respondem ao chamado radical que a evangelização suscita: acreditar e depois proclamar que cada pessoa nascida no mundo é digna de respeito e de amor sem limite, independentemente de suas razões, de suas circunstâncias ou de sua posição na vida. Os irmãos dominicanos aceitam o chamado radical para abrir seus corações para aqueles que buscam cura e esperança, para acompanhar todos os afetados pelas culturas de abuso, de incivilidade, de tráfico humano e discriminação devido à idade, cor, cultura ou estilo de vida, os quebrados, os abandonados, os indesejados, e os não amados, em sua hora mais escura, onde quer que eles possam estar e de onde quer que eles chamem.

Como ministros da misericórdia e da compaixão, os irmãos dominicanos são chamados a:

a. trazer cura e esperança uns aos outros na sua própria comunidade;
b. mover-se com coragem, engenhosidade e ousadia para trazer o Rosto de Jesus, a face da misericórdia e compaixão, para todos os afetados por esta catástrofe moral, os que são longe da fé, e aqueles que perderam a esperança e a confiança na Igreja;
c. criar caminhos carinhosos e novas pontes para aqueles irmãos e irmãs que foram abandonados para que possam ser bem-vindos de volta à comunidade religiosa da Igreja onde sua dignidade, liberdade e florescimento humano podem ser afirmados e protegidos;
d. colaborar com outros para mudar sistemas de opressão que violam a dignidade humana e crucificam a humanidade ;
e. projetar programas de formação, educação e ministérios que se concentrarão no
f. desenvolvimento de serviços de misericórdia e compaixão; e
g. ter a coragem e o compromisso autêntico de caminhar com os ‘mais pequenos’, os últimos e os perdidos, para ouvi-los, e acompanhá-los como peregrinos do Calvário em busca de cura, de esperança e de Ressurreição.

Nossa resposta vivida para cumprir esta missão não será mais fácil hoje do que era nos tempos de São Martinho de Porres. Se quisermos viver nosso chamado para sermos ministros da misericórdia e compaixão, devemos permanecer espiritualmente fundamentados na oração e assíduos em nossa devoção à santa Eucaristia, o sacramento da Caridade. Através desses encontros com Jesus, teremos a coragem e o compromisso, como ele teve, de nos engajarmos na pregação e evangelização em formas radicais – para abrir novas portas e caminhos desconhecidos e não ter medo de andar por deles. Como São Martinho de Porres, também descobriremos que somos chamados a viver e servir ao longo das linhas da fratura da humanidade, para responder a todas as pessoas especialmente aquelas que foram abusadas, para proteger e resgatar nossos irmãos e irmãs que vivem em famílias, em comunidades e em nações, particularmente aqueles que vivem em condições de opressão que crucificam a humanidade em sua carne e em sua unidade. Neste encontro, experimentaremos o privilégio e a graça de ver, tocar, nutrir e cuidar de nossos irmãos e irmãs, em cada um dos quais, sob tremendo disfarce, se revela o rosto de Cristo.

Oração por Vocações de irmãos cooperadores

Para você, São Martinho de Porres, nós rezamos para levantar nossos corações cheios de confiança serena e devoção. Conscientes de sua caridade ilimitada a serviço de cada pessoa em todos os níveis da sociedade e também de sua mansidão e humildade de coração, pedimos que inspire jovens a responder ao chamado de Deus para servir a Igreja como Irmãos Dominicanos, sendo ministros da misericórdia e compaixão.

Despeje sobre em nossas famílias e todos aqueles confiados aos nossos cuidados, especialmente os perdidos, os últimos e os mais humildes entre o povo de Deus, os preciosos dons de sua intercessão solícita e generosa, mostre ao povo de cada raça, cor, religião e etnia os caminhos da dignidade humana, da liberdade, do florescimento humano, da unidade, da justiça e da paz duradoura; implore nosso Pai do céu para que venha seu Reino, para que através da benevolência mútua, do cuidado e da compaixão, fundada na irmandade em Deus, homens possam se tornar irmãos dominicanos, sendo ministros da misericórdia e da compaixão. Amém.

Ó Maria, Protetora de nossa Ordem, e São Martinho de Porres, ministro da misericórdia e da compaixão, nos acompanhem através desta escuridão até a novidade da vida. Infundam nas feridas da Igreja os antibióticos da graça. Nutram o desenvolvimento de ministros saudáveis de misericórdia e compaixão para trazer cura e esperança ao Povo de Deus. Fique atenta em cuidar de nós como fez com seu próprio filho em sua jornada no Calvário e até à Ressurreição, para que nós também possamos nos aproximar da luz da fé que é o próprio Jesus. Amém.

Comissão Permanente ‘Vocação dos Irmãos Cooperadores Dominicanos’
Na festa de São Martinho de Porres, OP
3 de novembro de 2022
  

Papa Francisco (2021). "Praedicator Gratiae: Carta do Santo Padre ao Mestre da Ordem dos Pregadores para o 8º Centenário da Morte de São Domingos de Caleruega", Roma, Assessoria de Imprensa da Santa Sé.

Gerard Francisco Timoner III, OP (2021). "Praedicator Gratiae e a Graça da Pregação na Igreja", Roma, Convento Santa Sabina, Cúria Generalícia.

Papa Francisco (2015). "Homilia de Sua Santidade Papa Francisco", Madison Square Garden: Viagem Apostólica de Sua Santidade Papa Francisco a Cuba, aos Estados Unidos da América e Visita à Sede das Nações Unidas, 25 de setembro de 2015. Washington, Conferência Católica dos Estados Unidos.

Timothy Radcliffe, (1992). "Cante uma Nova Canção: A Vocação Cristã", (Springfield, Il): Templegate Publishers, 1992): 242

Papa Francisco (2021). "Praedicator Gratiae: Carta do Santo Padre ao Mestre da Ordem dos Pregadores para o 8º Centenário da Morte de São Domingos de Caleruega", Roma, Assessoria de Imprensa da Santa Sé.

Gerard Francisco Timoner III, OP (2021). "Praedicator Gratiae e a Graça da Pregação na Igreja", Roma, Convento Santa Sabina, Cúria Generalícia.

Papa Francisco (2015). "Homilia de Sua Santidade Papa Francisco", Madison Square Garden: Viagem Apostólica de Sua Santidade Papa Francisco a Cuba, aos Estados Unidos da América e Visita à Sede das Nações Unidas, 25 de setembro de 2015. Washington, Conferência Católica dos Estados Unidos.

Timothy Radcliffe, (1992). "Cante uma Nova Canção: A Vocação Cristã", (Springfield, Il): Templegate Publishers, 1992): 242 

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